domingo, 26 de agosto de 2007

O desejo de ser santo

Neste final de agosto, mês das vocações, gostaria de dar um testemunho vocacional pessoal. Durante muitos anos, ao longo da minha formação, escutei discursos de sublimação e exaltação à figura do padre: “Mãos santas que tocam no Corpo do Senhor”, “pés sagrados que devem trilhar os caminhos da perfeição”, “lábios impolutos que anunciam o Verbo de Deus” e por aí em diante.

Aos poucos, no entanto, fui me sentindo alvo das tentações comuns ao comum dos mortais e passei a não ver os meus cinco sentidos diferenciados das demais pessoas. Não dava mais para imaginar-me um semi-deus. Foi quando comecei a ler biografias de São Francisco de Assis escritas por gênios literários e estes me devolveram a imagem real do homem que se santifica humanamente, livrando-me do peso de ter de ser santo por dever de ofício. Em toda a vida jamais deixei de aspirar a santidade no sentido de fazer o melhor possível o que me cabia fazer. Estranhamente fui estimulado também pelos maus exemplos no meio do caminho. Lembro-me de quando assisti a uma peça teatral de Ariano Suassuna (O santo e a porca). Aí a figura do padre era tão ridícula que me despertava o propósito de jamais parecer com ele. E assim outras tantas representações até hoje ainda me “servem de mau exemplo”, no sentido de que me apontam as vias que não devo trilhar. Desisti definitivamente de ser candidato à canonização, assumi minha medida humana natural e decifrável, e me senti mais livre para cumprir meu ministério vocacional. No meu itinerário encontrei pessoas realmente santas, canonizáveis, que jamais pensaram em ser padres, menos ainda santas. Apenas quiseram ser boas. E bem que mereciam a honra dos altares.

Agradeço a Deus a qualidade primorosa dos meus formadores, ela salvou-me de qualquer deformação. Uma tendência natural de resistir a toda mediocridade, bem como à rotina e ao conformismo levou-me a experiências provocativas e estas me apontaram um horizonte para além do que me destinavam as normas estabelecidas pela educação no seminário. A formação clássica me deu segurança ao pensamento, a disciplina, aos sentimentos, enquanto o gosto pela leitura, o otimismo congênito e o modelo cristão familiar foram moldando, plasmando e lapidando o meu ser padre, em consonância com o que eu costumava rezar no noviciado: “Faz, Senhor, que eu seja um sacerdote segundo teu coração.” Se há uma coisa que deu certo no mundo, confesso, apesar dos meus pecados, foi a minha vocação.

Frei Aloisio Fragoso, frade franciscano.

Um comentário:

Anônimo disse...

comparto la búsqueda de la santidad, pero entiendo también que no hay un solo camino,

amor