terça-feira, 27 de novembro de 2007

Solenidade de Cristo Rei


Na solenidade de Cristo Rei*, precisamos trazer presente na consciência a convicção de que cabe a nós construir o reino de Cristo - já aqui e agora em nossa existência passageira - para vivê-lo na plenitude da eternidade.

Nos tempos em que estamos vivendo, muitas vezes parecemos experimentar um sentimento de total desesperança tanto nas estruturas como nos homens e mulheres. Muitos de nós temos a impressão de que o ser humano tem a tendência para o mal. Assim, podemos chegar a pensar que nada adianta lutar contra o mal e contra as estruturas injustas e opressoras de nosso tempo. Afinal, dizem alguns, elas sempre vencem: a maldade sempre vencerá a bondade; a injustiça sempre triunfará sobra a justiça. E a paz, ora a paz! Esta está cada vez mais longe.

A liturgia da Solenidade de Cristo Rei, entretanto, aponta para esperança. Cristo venceu o mal e a morte e nos introduziu em seu reino de justiça e paz. O ser humano pode, se deixado a si mesmo, tender para o pecado e para a morte. Mas o Cristo da fé nos fala de seu reino e, em toda a prática da sua vida, nos aponta as formas de torná-lo realidade. O reino de Deus não tem os mesmos valores do reino dos homens - a ganância, o lucro, a violência, a opressão, a corrupção e a guerra. Ao contrário, o reino do qual Cristo é o Rei tem os valores que pulsam no profundo do nosso ser. Nós ansiamos pela paz, pela justiça, pela fraternidade, pela igualdade; nós ansiamos viver num mundo de amor. Sonhamos com um mundo assim!

Na solenidade de Cristo Rei, precisamos trazer presente na consciência a convicção de que cabe a nós construir o reino de Cristo - já aqui e agora em nossa existência passageira - para vivê-lo na plenitude da eternidade. E aos leigos e leigas, cuja festa comemoramos, cabe, por sua vocação batismal, a vivência nas estruturas da sociedade - a começar de sua família, de seu trabalho, até a vida pública, aí incluindo a ação política. A paz e a justiça não são ideais distantes. Ao contrário, podem e devem ser realidade, se todos os cristãos e cristãs - e principlmente os leigos e leigas - fizerem delas o objetivo de sua vida.

Carlos Signorelli
Presidente do CNL

Leigos e leigas são chamados - vocacionados - a viver no tecido humano da sociedade e lá tornar realizade os sinais do reino de Deus.

*Domingo, 25/11/2007, a Igreja encerrou o seu ano litúrgico comemorando a Solenidade de Cristo Rei e o dia dos leigos e leigas.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

A morte, um mistério

A morte permanece para o homem um mistério profundo. Mistério cercado de respeito também pelos que não crêem. Ser cristão muda alguma coisa no modo de considerar e enfrentar a morte? Qual a atitude do cristão diante da pergunta sobre o sentido último da existência humana, que a morte nos põe continuamente? A resposta se encontra na profundeza da nossa fé. Para o cristão, a morte não é o resultado de uma luta trágica que se deva afrontar com frieza e cinismo. A morte do cristão segue as pegadas da morte de Cristo: um cálice amargo, porque fruto do pecado, a beber até o fim, porque é a vontade do Pai, que nos espera de braços abertos do outro lado do limiar; morte que é uma vitória com aparência de derrota; morte que é essencialmente não-morte: vida, glória, ressurreição.

Como se dará tudo isso precisamente não podemos saber; não cabe ao homem medir a imensidade do dom e das promessas de Deus. A despedida dos fiéis é acompanhada da celebração eucarística, memória da morte de Jesus na cruz e penhor da sua ressurreição. O prefácio tem um tom de humana suavidade e divina certeza: "Nele refulge para nós a esperança da feliz ressurreição. E aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola. Ó Pai, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada, e desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível".

Face a face com Cristo

A morte do cristão não é um momento no fim do seu caminho terreno, um ponto isolado do resto da vida. A vida terrena é preparação para a do céu, nela estamos como criancinhas no seio materno: nossa vida na terra é um período de formação, de luta, de primeiras opções. Ao morrer, o homem se encontrará diante de tudo o que constituiu o objeto das suas aspirações mais profundas: encontrar-se-á diante de Cristo e será a opção definitiva, construída por todas as opções parciais desta terra.

Cristo espera eternamente com os braços abertos; o homem que optou contra Cristo, será queimado eternamente por aquele mesmo amor que repeliu. O homem que se decide por Cristo encontrará no mesmo amor a plena e infinita alegria.

"Dai-lhes, Senhor, o repouso eterno"

Podemos fazer alguma coisa pelos mortos? Eles não estão longe de nós; pertencem todos - os mortos no abraço de Deus - à comunidade dos homens e à comunidade da Igreja.

A oração pelos defuntos é uma tradição da Igreja. De fato, subsiste no homem, também quando morre em estado de graça, muita imperfeição, muita coisa a ser mudada, purificada do antigo egoísmo! Tudo isto acontece na morte. Morrer significa morrer também ao mal. Éo batismo de morte com Cristo, no qual encontra acabamento o batismo de água. Esta morte vista pelo outro lado - assim crê a Igreja - pode ser uma purificação, a definitiva e total volta à luz de Deus. Quanto tempo durará? Isto está fora do nosso tempo. Não podemos determinar tempo nem lugar. Mas, partindo do nosso ponto de vista humano, há um tempo durante o qual consideramos alguém como "morto" e o ajudamos com nossa oração. De quantos meses ou anos se trata, ninguém pode dizê-lo.