sexta-feira, 29 de junho de 2007

Não basta dizer: Senhor, Senhor!


Comentário do Evangelho
(Mt 7, 21-29)

UMA TERRÍVEL FRUSTRAÇÃO

Jesus entreviu a possibilidade de o discípulo do Reino, embora cheio de zelo, sentir a terrível frustração de ver-se rejeitado, por ocasião do juízo final. Isto acontecerá a quem reduz sua fé a palavrórios vazios e a gestos incapazes de provar sua adesão ao Reino. Pelo contrário, a garantia de entrar no Reino definitivo está na disposição de fazer a vontade do Pai celeste. Esta consiste em ter um amor entranhado pelos mais fracos e pequeninos, em mostrar-se misericordioso e serviçal com os outros, em suma, em praticar tudo quanto nos foi ensinado no sermão da montanha.

A postura do Messias-juiz é paradoxal. Enquanto as pessoas afirmam ter profetizado, expulsado demônios e feito milagres em seu nome, ele as repele dizendo terem praticado a iniqüidade. O que, com uma leitura superficial, podia parecer um gesto louvável de bondade, com uma leitura mais profunda, acaba aparecendo coisa totalmente diferente.

Os títulos de profeta, exorcista e taumaturgo são insuficientes para garantir a salvação. Quiçá o verdadeiro motivo de sua ação não fosse um amor entranhado ao próximo. Teriam agido por exibicionismo? Buscavam promover-se? Exerciam o ministério por mera formalidade? Tudo isto é possível. Uma coisa é certa: não agiam em sintonia com a vontade de Deus.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Pérolas aos porcos, porta estreita, fazer bem aos outros


Evangelho Mateus (Mt 7, 6.12-14)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: [6]"Não deis aos cães as coisas santas, nem atireis vossas pérolas aos porcos; para que eles não as pisem com os pés e, voltando-se contra vós, vos despedacem. [12]Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a lei e os profetas. [13]Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso é o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ele! [14]Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida! E são poucos os que o encontram!" Palavra da Salvação!

Comentário o Evangelho
A CAUTELA PASTORAL

Soa enigmática a orientação de Jesus aos discípulos: não dar aos cães as coisas sagradas, nem jogar pérolas aos porcos. A que estaria se referindo? As palavras do Mestre exortam a cautela no trabalho pastoral. Era uma forma de precaver os missionários contra a ingenuidade de partilhar a mensagem do Reino com gente despreparada para recebê-la, ou pior ainda, avessa ao Reino e a seus mensageiros. Seria um trabalho inútil, com o risco de provocar uma reação violenta. Esta norma pastoral de Jesus pressupõe um mínimo de boa vontade e de abertura por parte de quem é evangelizado. É inútil querer levar alguém a converter-se ao Reino, contra a sua vontade. Será pura perda de tempo! A Palavra só produz frutos no coração de quem a recebe com liberdade e alegria. Seria fazer mau uso dessa Palavra querer forçar alguém a acolhê-la. Jesus entrevê até mesmo um risco para a vida do apóstolo, ao dizer que os porcos poderiam voltar-se contra ele e despedaçá-lo. Não valeria a pena correr tal risco! A experiência missionária de Jesus ofereceu-lhe as bases para chegar a esta conclusão. Ao longo de seu ministério, ele se deparou com pessoas absolutamente refratárias à sua mensagem, numa evidente atitude hostil. Por isso, não nutria a ilusão de poder convertê-las. As coisas santas e as pérolas teriam destinatários melhores.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Esmola, Oração, Jejum, tudo sem ostentação


Evangelho do dia
(Mateus 6, 1-6.16-18)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: [1]"Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus. [2]Por isso, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. [3]Ao contrário, quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita, [4]de modo que, a tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa.

[5]Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. [6]Ao contrário, quando tu orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa.

[16]Quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade vos digo: Eles já receberam a sua recompensa. [17]Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, [18]para que os homens não vejam que tu estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa". Palavra da Salvação!



Comentário do Evangelho
A VERDADEIRA PIEDADE

A relação do ser humano com Deus acontece através de gestos concretos. A piedade bíblica valorizava, de modo especial, três práticas de piedade: a esmola, a oração e o jejum. A esmola manifesta a abertura de coração para o próximo, especialmente, para quem é pobre e depende da misericórdia alheia para sobreviver. Orar é entrar em comunhão com Deus, como superação dos limites humanos e como projeção para o Absoluto. O jejum coloca-se no nível da relação do ser humano consigo mesmo, evidenciando a capacidade de manter, sob controle, as próprias paixões, os próprios sentimentos e, até mesmo, os instintos.

Jesus ensinou a seus discípulos uma maneira diferente de praticar a piedade, maneira que ele chamou de justiça. Tudo deve ser feito com a máxima discrição: a esmola deve ser dada sem ostentação; a oração verdadeira, feita no recesso do próprio quarto, de modo a ser Deus a única testemunha; o jejum, dissimulado com banhos e perfumes para se evitar toda aparência de abatimento. Quem age assim, é visto por Deus, que se dá conta de tudo, até mesmo do que se passa em segredo.

Jesus não aboliu as práticas de piedade. Pelo contrário, deu-lhes uma impostação nova. Esse é o modo concreto de vivê-las na perspectiva da justiça do Reino. A verdadeira piedade é, pois, um caminho excelente de encontro com Deus e com os irmãos.