sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O Segredo do Perdão

"O perdão é divino, é o segredo mais profundo de Jesus,
é o coração do Evangelho,
é o dom que Jesus nos quer dar
para que nos tornemos agentes de unidade, artíficies da paz.
Uma comunidade, uma família não pode existir se não está fundada no perdão.
E o perdão começa pelo reconhecimento de que cada um tem o seu lugar,
o seu dom a exercer."

(Jean Vanier, em "A Fonte das Lágrimas")

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

DEIXAR-SE AMAR

«O amor gratuito não espera dividendos nas suas actuações e investe o seu capital sem juros...

Qual será o prémio de quem corresponde ao amor gratuito de Deus senão a de ser amado por Ele e a de compartilhar com Ele a vida eterna que Ele dá como herança, de forma condicionada no presente (o cem vezes mais) e de forma plena no futuro?

Na presença do nosso Deus revelado, ninguém tem o direito de dizer: «não posso rezar porque não sei amar». Precisa, sim, de se deixar amar como a criança e pôr-se na escola do amor.

Henri Caffarel conta uma história passada em Itália em fins do séc. XVIII, num convento em construção na encosta dos Apeninos: o prior do convento chamou o arquitecto e mandou-lhe construir uma cela isolada sem janelas, com frinchas que apenas deixassem entrar alguns raios de sol; nada mais dentro da cela a não ser uma inscrição com estas palavras: «Amo-te exactamente como és».
Nessa cela, ia ser proibido qualquer pensamento ou tema de meditação para além deste: «Deus ama-me infinitamente, ternamente, Deus ama-me exactamente como sou».
A cela destinava-se a algum monge que andasse triste ou ansioso a perguntar-se «como é que o Senhor pode amar alguém como eu?». (1)

Quem não sabe amar a Deus entre na cela do monge e deixe-se lá ficar; veja a inscrição na parede e não pense em mais nada. «Deus que te ama gratuitamente, te ensinará a amar».

Luís Rocha e Melo, em "Se tu soubesses o dom de Deus"

(1) Caffarek, H., L´oraison de pauvreté, p. 6-8

domingo, 16 de novembro de 2008

Negue-se a si mesmo...

«Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me» (Lc 9, 23)

Não pensemos que, por estarmos neste mundo, podemos viver ao seu sabor como um peixe na água. Não pensemos que, pelo fato de o mundo nos entrar em casa através de certos programas de rádio ou da televisão, nos seja permitido ouvir todos os programas e ver todas as transmissões que fazem. Não pensemos que, por andarmos pelas estradas do mundo, podemos olhar impunemente para todos os cartazes e comprar no quiosque ou na livraria, indiscriminadamente, qualquer tipo de publicação. Não pensemos que, por estarmos no meio do mundo, podemos imitar e assumir os modos de viver do mundo: experiências fáceis, imoralidade, aborto, divórcio, ódio, violência, roubo. Não, não. Nós estamos no mundo. E isso é evidente. Mas não somos do mundo (2).

E isso implica uma grande diferença. Classifica-nos entre aqueles que não se alimentam das coisas mundanas e superficiais, mas das que nos são expressas, dentro de nós, pela voz de Deus que está no coração de cada pessoa. Se a escutarmos, faz-nos penetrar num reino que não é deste mundo. Um reino onde se vive o amor verdadeiro, a justiça, a pureza, a mansidão, a pobreza. Onde vigora o domínio de si mesmo.

Porque é que muitos jovens fogem para o Oriente, para a Índia, por exemplo? É porque tentam encontrar ali um pouco de silêncio e aprender o segredo de algumas figuras importantes, grandes na espiritualidade, que, pela profunda mortificação do seu “eu” inferior, deixam transparecer um amor (…) que impressiona todos os que deles se aproximam. É a reação natural à confusão do mundo, ao barulho que reina fora e dentro de nós, que já não dá espaço para o silêncio, para se ouvir Deus.

Coitados de nós! Mas será mesmo preciso ir à Índia, quando há dois mil anos Cristo nos disse: «nega-te a ti mesmo… nega-te a ti mesmo…»?

A vida cômoda e tranqüila não é para o cristão. Se quisermos seguir Cristo, ele não pediu nem nos pede menos do que isto.

O mundo invade-nos como um rio na época das cheias, e nós temos que ir contra a corrente. O mundo para o cristão é um matagal cerrado, e é preciso ver onde se põem os pés. E onde é que devemos pôr os nossos pés? Sobre aquelas pegadas que o próprio Cristo, ao passar nesta Terra, nos deixou assinaladas: são as Suas Palavras. Hoje, Ele diz-nos de novo:

«Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo…».

Por causa disso, talvez se venha a ser alvo de desprezo, de incompreensão, de zombarias, de calúnias. Podemos ter que nos isolar, que aceitar a desconsideração, que abandonar um cristianismo de fachadas.
Mas Jesus continua:

«Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me».

Quer queiramos, quer não, o sofrimento amargura a nossa existência. Também a tua. E, todos os dias, chegam-nos pequenos ou grandes sofrimentos. Gostarias de te livrar deles? Revoltas-te? Dão-te vontade de te lamentares? Então, não és cristão.

O cristão ama a cruz, ama o sofrimento, mesmo entre lágrimas, porque sabe que tem valor. Não foi em vão que, entre os muitos meios de que Deus dispunha para salvar a humanidade, escolheu o sofrimento. Mas Ele – lembra-te –, depois de ter levado a cruz e de ser nela crucificado, ressuscitou.

A ressurreição é também o nosso destino (3). Se aceitarmos com amor – em vez de o desprezarmos – o sofrimento que nos vem da nossa coerência cristã e todos os outros que a vida nos traz, havemos de experimentar, então, que a cruz é o caminho, já nesta Terra, para uma alegria nunca antes experimentada. A vida da nossa alma começará a crescer. O reino de Deus em nós adquirirá consistência. E lá fora, pouco a pouco, o mundo vai desaparecendo aos nossos olhos e parecer-nos-á de cartão. E já não vamos ter inveja de ninguém.
Nessa altura já nos podemos considerar discípulos de Cristo:

«Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me».

E, como Cristo a quem seguimos, seremos luz e amor para as chagas sem número que dilaceram a humanidade de hoje.
Chiara Lubich

Palavra de Vida, Julho de 1978. Publicada em Essere la tua Parola, Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo, Roma 1980, pp. 67-69;

2) cf. Jo 17, 14;

3) cf. Jo 6, 40.

sábado, 15 de novembro de 2008

SER INTEIRAMENTE AMOR

"Se não houvesse mais do que contemplar a Deus eternamente, como um bonito espectáculo ou uma linda obra de arte, uma purificação tão completa, tão total, queimando até à raiz do egoísmo, talvez não fosse absolutamente necesária.

Mas, dado que o Deus vivo não é senão Amor, dado que a nossa vocação de homem é entrar n´Ele para viver para sempre a Sua Vida e ser capaz de amar como Ele ama, temos de admitir que nem um átomo de egoísmo pode subsistir aí, onde não há senão amor.

É por isso que a alegria mais sublime, o que faz com que sejamos cristãos - não ser senão eternamente um com o amor infinito - leva necessariamente consigo a mais sublime exigência: ser eu mesmo inteiramente amor, ser puramente, isto é, unicamente amor, sem nenhuma atenção nem olhar nem encerramento sobre mim." (François Varillon, em "Alegria de Crer e Viver")

sábado, 1 de novembro de 2008

VERDADEIRA FELICIDADE

«... nós sonhamos com uma felicidade de saldo, feita de alegrias fáceis. É este sonho que Jesus vem condenar, e o que Ele propõe (é esta a palavra essencial) é que o nosso apetite de felicidade seja ele próprio transformado.

Felizes, bem-aventurados aqueles cuja alma é suficientemente elevada para que o seu desejo essencial seja o de viver como filhos do Pai que está nos céus!(...) a verdadeira festa humana, a única afinal , é saber-se filho de Deus. Jesus trá-la aos homens. é preciso acolhê-la, isto é, fazer a experiência da filiação divina: viver, e não só pensar, como filhos que têm um Pai.» -(François Varillon, em "Alegria de Crer e de Viver")