Você é adulto e anseia por uma existência séria, comprometida, embora sem perder a segurança? Ou então já é idoso e deseja viver seus últimos anos confiando-se a alguém que não engana, sem preocupações desgastantes? Também para você é válida essa frase de Jesus.
De fato, no Evangelho ela é precedia por uma série de recomendações em que Jesus nos convida a não nos preocuparmos com o que deveremos comer e vestir, exatamente como as aves do céu, que não semeiam, e os lírios dos campos, que não tecem. Você deve, portanto, eliminar do seu coração toda e qualquer agitação com as coisas terrenas, porque o amor do Pai por você é bem maior do que pelas aves e pelas flores, e Ele mesmo cuida de você.
É por isso que lhe diz:
“Vendei vossos bens e dai o dinheiro em esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói”.
O Evangelho, no seu conjunto e em cada uma de suas palavras, é um pedido aos homens de tudo aquilo que são e que têm.
Antes da vinda de Cristo, Deus não pedia tanto assim. O Antigo Testamento considerava a riqueza terrena como um bem, uma bênção de Deus. E, se ele prescrevia dar esmola aos necessitados, era para obter a benevolência do Todo-poderoso.
Mais tarde, no judaísmo, a idéia da recompensa na outra vida já se tornara mais comum. De fato, um rei respondeu da seguinte maneira a alguém que o acusava de esbanjar os seus bens: “Meus antepassados acumularam tesouros para essa terra, enquanto que eu acumulei tesouros para o céu”.
Ora, a originalidade da frase de Jesus está no fato de que Ele pede a você o dom total, pede-lhe tudo. Quer que você seja um filho livre, sem preocupações em relação ao mundo, um filho que se apoia somente nele.
Ele sabe que a riqueza é um obstáculo enorme para você, pois ela ocupa o seu coração, enquanto Ele quer ter todo esse espaço disponível para si.
Daí, portanto, a recomendação:
“Vendei vossos bens e dai o dinheiro em esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói”.
E se você não pode se desfazer materialmente dos bens, devido a obrigações para com outras pessoas, ou porque a sua posição o obriga a se apresentar de modo mais requintado, isso não o dispensa de se desapegar espiritualmente dos bens e de ser um simples administrador deles. Assim, ao mesmo tempo que lida com a riqueza, você ama os outros e, administrando-a em função deles, prepara um tesouro que a traça não corrói e o ladrão não rouba.
Mas, você tem certeza de que deve ficar com todos os seus bens? Ouça a voz de Deus que fala no seu íntimo; peça conselho, se não souber decidir. Você verá quantas coisas supérfluas encontrará entre os seus bens. Não fique com elas. Dê, dê para quem não possui. Coloque em prática a frase de Jesus: “Vendei... e dai”. Assim você encherá as “bolsas que não se estragam”.
É lógico que, para viver no mundo, é necessário interessar-se também pelo dinheiro, também pelas coisas materiais. Mas Deus quer que você se ocupe e não que se preocupe. Ocupe-se daquele mínimo que é indispensável para viver de acordo com a sua situação, conforme as suas condições. Quanto ao mais:
“Vendei vossos bens e dai o dinheiro em esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói”.
O papa Paulo VI era realmente pobre . Uma demonstração disso foi o modo como ele desejou ser sepultado: num pobre caixão, “na terra nua”. Pouco antes de morrer havia dito a seu irmão: “Faz tempo que eu preparei as malas para aquela viagem tão exigente”.
Pois bem, é isso que você deve fazer: preparar as malas.
Nos tempos de Jesus talvez as malas se chamassem de bolsas. Prepare-as dia após dia. Procure enchê-las o mais que puder com aquilo que pode ser útil para os outros. Você só tem realmente aquilo que dá. Lembre-se de quanta fome existe no mundo. Quanto sofrimento. Quantas necessidades…
Ponha nessas malas também todo gesto de amor, toda obra em favor dos irmãos.
Faça essas ações por Ele. Diga-Lhe, do fundo do coração: por Ti. E faça-as bem, com perfeição. Elas estão destinadas ao céu, permanecerão para a eternidade.
Chiara Lubich
Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em março de 1979.
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